quarta-feira, 29 de julho de 2015

PERNAMBUCO

Este actual Estado, mais concretamente a cidade do Recife e arredores, já tinha muitos povoadores portugueses, homens abastados,sobretudo do Norte, que se dedicavam à lavoura e tratamento do açúcar ou eram comerciantes mesmo antes das lutas contra os holandeses. Por isso era um porto comercial de grande movimento e, segundo as listas dos barcos que lá fundeavam ou traficavam existentes no Arquivo histórico Ultramarino, muitos deles tinham o nome de Bom Jesus de Bouças.  Por outro lado existem registos de irmãos da Confraria do Bom Jesus ali residentes desde 1655 tendo sido os primeiros Domingos Ramos e sua mulher. Estes e outros irmãos ali residentes pagavam as suas pensões à Confraria normalmente em açúcar

Após a vitória contra os holandeses na guerra travada entre 1648/49 os pernambucanos construíram uma capela a Nossa Senhora dos Prazeres da Vitória que posteriormente foi substituída pela imponente igreja cuja história vamos ver e ouvir:




Bom Jesus de Bouças situado no altar-mor da igreja de Guararapes
no lado do Evangelho


                                             Vista de conjunto do Altar-mor    
         
  Do lado esquerdo está a imagem do Bom jesus de Bouças e do direito a de Nossa
Senhora dos Prazeres da Vitória

Festa da Pitomba

Ainda como agradecimento foi decidido realizar, durante oito dias, a seguir à Pascoa, uma novena a Nossa Senhora dos Prazeres da Vitória, também conhecida como festa da Pitomba, como actualmente se designa por se realizar na época em que abunda a fruta com esse nome e que se realiza ainda hoje na semana a seguir à Pascoa
O primeiro dia da festa é dedicado à Nossa Senhora do Rosário; o segundo, à Nossa Senhora dos Prazeres; o terceiro, à Senhora Santa Ana; o quarto, a  São Gonçalo; o quinto, ao Bom Jesus de Bouças; o sexto, à Nossa Senhora da Soledade; o sétimo, à Nossa Senhora da Conceição; e, o oitavo, ao deus Baco (?).
A dedicação do 5º dia desta festa, que decorre sem interrupção desde 1649, ao Bom Jesus de Bouças prova que a devoção a esse Cristo, levado para o Brasil pelos portugueses, já então tinha raízes. Por outras palavras, o nosso Bom Jesus já estava presente no Brasil, concretamente em Pernambuco, no momento da libertação daquele território. Martinho da Vila tem um samba cuja letra nos lembra isso mesmo através de uma referência à festa da Pitomba.

Esta vitória foi o primeiro momento de liberdade que o Brasil viveu. Saudando esse momento deixo aqui uma música de Martinho da Vila, alusivo ao acontecimento:


BAÍA
BAÍA- Estado

No Estado da Baía, o nosso Bom Jesus também foi conhecido como Bom Jesus de Bouças. As razões disso terão sido semelhantes às que referi a respeito de Pernambuco: A fixação de colonos portugueses, muitos dos quais também irmãos da Irmandade do Bom Jesus de Bouças e que tal como em Pernambuco pagariam as suas pensões em dinheiro ou açúcar.
Neste Estado existem três locais de culto e uma escola primária com o nome do padroeiro.


Cidade de Salvador

Uma igreja,  situada no centro histórico da cidade de Salvador, que foi levantada entre 1725 e 1732 por Francisco Gomes do Rego, sob a invocação do Senhor Bom Jesus de Bouças Crucificado da Via Sacra e São Miguel.Em 1744, a igreja, juntamente com uma casa anexa, foi doada pelo fundador à Ordem 3ª. de São Francisco, com o compromisso que esta mandasse rezar anualmente, sete missas votivas.
Em 1854, a imagem do Senhor de Bouças foi colocada no sepulcro do altar e, em seu lugar, foi colocada outra do Nosso Senhor Crucificado, pertencente à igreja da Ordem 3ª. de São Francisco.
Destacam-se as imagens de Cristo na Cruz e a de São Miguel. Na fachada, um painel de azulejos policromados, com emblema da Ordem 3° de São Francisco, vindo de Lisboa por volta de 1780-90. No nicho central havia uma imagem de Nossa Senhora.Situa-se na área do Pelourinho na Ladeira de São Miguel (rua Frei Vicente), com acesso pelo Pelourinho ou pela Baixa dos Sapateiros

Exterior da capela


Interior da capela
Reconcâvo Baiano (Zona adjacente à área de Salvador)

Fazenda do Engenho de Água

Esta capela, erguida numa fazenda de cacau, terá sido construída nos finais do séc. XVIII pelo faialense Gaspar Faria Bulcão. O último e grande restauro realizou-se em 2007.


Quando fiz a primeira pesquisa encontrava-se degradada e à venda. Não consegui então contactar com os proprietários e as informações que obtive foram fornecidas pelo Arquivo Histórico da Baía. A capela estava em mau estrado e o Cristo, talhado em Roma, havia sido retirado para outra igreja. Um acaso levou-me, muito posteriormente, a descobrir que ela fora vendida e completamente restaurada e que funcionava novamente como fazenda de cacau. A casa sede destina-se agora a eventos sociais. O responsável pela recuperação, empresário Mário Ribeiro, fez um trabalho fantástico. 

Antes do restauro:


A seta indica a localização da Capela numa elevação fronteira à casa


Capela octogonal


Antigo altar-mor antes de terem retirado o Cristo

Depois do restauro:

                                             
 Capela octogonal restaurada


Bom Jesus de Bouças depois de recuperado

Por acaso encontrei na Internet um programa sobre este espaço que aqui deixo para terem uma melhor percepção da sua beleza



Dado o desconhecimento que o proprietário do local revelou sobre a origem do nome de Bouças, para que ele pudesse avaliar a preciosidade que tem na capela tive o cuidado de lhe escrever e mandar a história do nosso Cristo .

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Jacu, Terra Nova

O terceiro local de culto é a Igreja de Jacu, em Terra Nova, também no Reconcâvo baiano.É um edifício iniciado no séc.XIX e terminado no XX. 
Está em muito mau estado e fechado para obras.


Em Jacu existe uma escola primária denominada de Senhor Bom Jesus de Bouças o que faz supôr que tivesse havido por aí algum tempo uma devoção forte a este Cristo.

MINAS GERAIS

             O Estado de Minas Gerais é aquele em que a devoção ao Bom Jesus de Bouças, mas já então com o nome de Matosinhos mais se divulgou e actualmente ali existem pelo menos 24 igrejas dessa invocação. Há contudo uma excepção que ainda não consegui explicar: a existência de um altar em Cachoeira do Campo com uma imagem do Bom Jesus de Bouças numa igreja dedicada a uma outra padroeira. Praticamente todas essas igrejas foram levantadas durante o chamado Período do Ouro, a época a partir de finais do século XVII,  em que foram descobertas e trabalhadas as minas de ouro. Outras foram erguidas posteriormente. Para que se entenda toda a história é necessário fornecer alguns detalhes sobre a importância de Minas Gerais na sociedade e história da época:

         A busca do ouro atraiu muitos emigrantes a esse Estado, maioritariamente portugueses do Norte do país, incluindo Matosinhos. Esse ciclo foi muito importante em todas as áreas da vida  de Portugal e do Brasil. Enquanto o primeiro  se despovoava o segundo via a sua população aumentar. Com eles os emigrantes levaram as suas devoções e uma delas foi sem dúvida a do Bom Jesus, já com o nome de Matosinhos e não de Bouças.
            A riqueza conseguida possibilitou a construção de muitas igrejas aos santos padroeiros das novas vilas que se foram criando apoiadas por confrarias e irmandades a que os fiéis estavam ligados, muitos delas idas de Portugal. Esse facto foi importante para o aparecimento do barroco brasileiro.

Para chegar ao ouro abriu-se um caminho que saía de Parati e se dirigia para os locais onde havia sinais desse metal. Era o chamado Caminho Velho. Mais tarde, para facilitar o acesso do Rio de Janeiro às minas e também para os oficiais reais controlares a recepção do “quinto do ouro”, imposto que se tinha de pagar ao rei pelo metal recolhido, foi aberto um outro caminho o “caminho novo” que saía do Rio do Janeiro para Ouro Preto onde se encontrava com o Velho. No tempo do aparecimento das pedras preciosas esse caminho foi prolongado até Diamantina. 



Ao longo desse caminho surgiram os Pousos, locais de paragem dos que caminhavam em direcção às minas para descansarem e se abastecerem

 Pouso

Esses lugares eram frequentados pelos Tropeiros homens que, conduzindo grupos de mulas e burros, transportavam para a costa o ouro e, no regresso, levavam para Minas os abastecimentos de que as populações precisavam. Porque andavam de terra em terra funcionavam como correios. Eram também portadores de novidades entre as quais as notícias dos milagres de alguns santos.


                  Ermitão

O crescimento desses locais esteve na origem de algumas das vilas e pequenas povoações onde os colonos se instalaram, edificaram as suas casas e foram levantando igrejas. Algumas destas foram pagas através de peditórios feitos pelos ermitães, homens que andavam de terra em terra a pedir para um santo. A Confraria do Bom Jesus de Matosinhos, em Portugal, necessitada de dinheiro para completar e redecorar a nova igreja em Portugal, enviou para o Brasil, como ermitão, João Álvares de Carvalho, que aí fez duas longas viagens, através da Estrada Real, uma entre 1719 e 1723 e a segunda de 1730 (?)  a 1736 afim de recolher esmolas para a referida obra. Outro português, Feliciano Mendes estando doente prometeu, se obtivesse uma cura,  levantar uma igreja ao Bom Jesus de Matosinhos. Assim nasceu a Igreja de Congonhas que foi construída com o dinheiro recolhido pelo referido Feliciano Mendes pelos caminhos de Minas pedindo esmolas com esse fim e levando consigo um oratório do Bom Jesus de Matosinhos. Pelos locais onde passaram apareceram posteriormente algumas igrejas da devoção ao  Bom Jesus de Matosinhos
Oratório de Feliciano Mendes
                       O mais antigo ex-voto ao Bom Jesus de Matosinhos         

  O mais antigo ex-voto ao Bom Jesus de Matosinhos no Brasil  terá sido oferecido por uma dama mineira em agradecimento pela cura de um escravo seu. Por esta época ainda o ermitão português, João Álvares de Carvalho se encontrava recolhendo esmolas no espaço de Minas Gerais. 

Este ex-voto pertence ao Banco do Brasil e está exposto na sala dos Milagres do Santuário de Congonhas.
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NOTA IMPORTANTE

Como este Estado é o que tem maior número de locais de culto ao Bom Jesus de Matosinhos irei referir-me a eles num capítulo especial

OUTROS ESTADOS COM DEVOÇÃO AO BOM JESUS DE MATOSINHOS

Para além dos locais de devoção ao Bom Jesus de Matosinhos já referidos, existem mais 3 em dois estados diferentes:
São Paulo

A igreja do Brás, na cidade de S. Paulo, bairro do Brás


O bairro do Brás, situado na região central de São Paulo, nasceu como uma região de chácaras, cresceu e se desenvolveu como bairro operário e "pátria" dos imigrantes italianos, depois acolheu os migrantes nordestinos, conheceu sua decadência e deterioração urbana e hoje é conhecido como um dos principais centros do comércio popular na cidade, destino diário de milhares de sacoleiros e sacoleiras de todo o Brasil. 


A origem do Brás está ligada à figura do português José Brás. Diz a história que José Brás, proprietário de uma chácara na região, teria construído a igreja do Senhor Bom Jesus de Matosinhos em 1765, ao redor da qual se desenvolveu um povoado que daria origem ao bairro do Brás. O Cristo actual não é um Crucificado mas o Bom Jesus da Cana Verde talvez por influência da colónia italiana que ali se radicou no séc. XIX
          
            Capela antiga
              Igreja actual




                            
                             
                                                                                                                            
                             
Mogi das Cruzes  -  Igreja Bom Jesus de Matosinhos e São Bento

Inicialmente dedicada ao Bom Jesus de Matosinhos  passou à dedicação de S. Bento quando, num dia de procissão do padroeiro, a igreja ficou sem ninguém e os negros da irmandade de S. Bento que tinham sido expulsos de uma igreja onde faziam o seu culto, aproveitaram a ocasião para aí colocarem a imagem do seu padroeiro. 



Na imagem podem ver-se em cima o Bom Jesus e em baixo o São Bento

Rio de Janeiro

 Santuário de Werneck
A primeira capela do Bom Jesus de Matosinhos neste local terá sido levantada, em 1773, por portugueses oriundos de Matosinhos, lavradores do Lugar do Sardoal (Leça). Em 1862, foi substituída por uma igreja maior; de que não encontrei imagens, que subsistiu até 1959, data de construção do actual santuário
Todos os anos se faz aqui uma
grande Festa ao Bom Jesus à semelhança das nossas romarias mas que no Brasil se denominam como Jubileus









Jubileu do Bom Jesus